quinta-feira, 23 de abril de 2009

A História do Claudiomiro

No outro dia lembrei-me de uma, das muitas, histórias do Paizinho (paz à sua alma). Uma pérola deste GAS. Os factos estão turvos, e algo degradados, por isso peço ajuda para que me ajudem a compô-los.

Numa noite de ensaio, que por acaso calhou à sexta-feira, o Guronzé no final do mesmo virou-se para o pessoal e disse que tinha uma colega de curso que se ia casar, à qual queria fazer uma serenata. É claro que como cavalheiros que éramos (e que somos) e perante tal distinto pedido logo aceitamos fazer a serenata, sem deixar transparecer o mínimo de dúvida perante tal nobre gesto do nosso mui e sempre gentil-homem Gurunzé… pelo menos assim foi nos primeiros 10 segundos, porque depois disso começou tudo a abacalhar a dizer que ele só queria ir fazer a serenata para depois saltar à cueca da boazuda uma ultima vez antes do nó. Assim ficou marcada a serenata.

Passada precisamente uma semana, ou mais, lá nos encontramos todos para rumar à dita serenata. O destino: algures entre Vila do Conde e a Póvoa do Varzim. Enfiamo-nos nos nossos bólides, e lá fomos em caravana. Como sempre, eu era um dos bravos pilotos da campanha, assim tem de ser porque aqui o menino vomita-se todo sempre que anda de carro, que se dirigia até ao dito destino incerto a uma estonteante velocidade de 90km/h em plena auto-estrada, mais uma vez por culpa aqui do menino que parece um velho com artroses e cataratas a conduzir. Mas adiante, que ainda muito falta contar.

Ao longo da viagem fui informado de um pormenor, que francamente desejava desconhecer: a serenata ia ser nas Caxinas! (entra a musica do horror e do terror!!!)
Para terem uma ideia das gentes das Caxinas. Lembram-se do André, do FCP, aquela força arruaceira do meio campo? Caxineiro. Lembram-se do Paulinho Santos, do FCP, aquela força no cotovelo? Caxineiro. Lembram-se do Hélder Postiga? Aquele que não tem corpo nem para apanhar uma gripe, quanto mais uma coça, mas quando fala o chão estremece e o interlocutor fica encharcado com saliva e mijado de medo. Caxineiro.
Ah… Caxinas esses belo lugar de gentes do mar e amigos da porrada, onde todos falam grosso, como se tivesses uma batata na boca, e cospem perdigotos a distancias consideráveis.

Assim que chegamos estacionamos os carros perto da casa da donzela, que pelo andar da carruagem só faltava ter pêlo na venta. De súbito, as persianas levantaram-se e algumas pessoas apareceram, dispersas, na rua outrora deserta. Afinaram-se uma ultima vez os instrumentos enquanto alguns caxineiros curiosos se encostavam às paredes do outro lado da rua, deviam estar a decidir qual de nós iriam espancar primeiro. Alinhamo-nos em frente da casa da moçoila e começamos a cantar a primeira música de três. O Guronzé apressou-se a tocar à campainha porque os transeuntes começavam a mostrar sinais de desagrado e inquietação perante os sons celestiais que nos saíam dos instrumentos e da garganta. Foi então que à porta veio a moçoila, huff… não tinha pêlo na venta. Atrás dela estava um senhor de estatura média, de barriga maciça que olhava para nós enternecido. Aquela simpática figura masculina foi a nossa salvação, assim que apareceu, os transeuntes, que se começavam a mostrar inquietos, acalmaram. Conseguimos então cantar o reportório previsto com a serenidade necessária. Mas a meio de uma das músicas o insólito aconteceu, um carro travou mesmo em frente à casa onde nos encontrávamos e uma cabeça saiu de lá de dentro e brandiu num tom seco e agressivo: “ Oh “Miro” tá tudo bem??!”. Num gesto o doce homem levantou o braço e disse: “Tá tudo Helder!”. Sim, é verdade, era o Hélder Postiga! Sempre pronto prá porrada…

Bem, a serenata decorreu até ao fim sem mais incidentes dignos de registo. No final desta fomos todos apresentados à moçoila e ao seu papá babado, da moçoila não reza a história, mas agora do papá a conversa é outra. O senhor chamava-se Claudiomiro e abriu-nos a porta de sua casa como fossemos família. Tinha uma mesa posta para nós e ofereceu-nos bebida com fartura e qualidade. O nome do senhor gerou estranheza e para ser franco eu até o evitava pronunciar para não o insultar. Passados uns minutos de termos entrado alguém bateu à porta, era o Zé Manel, o GNR, vinha à paisana e era vizinho, um habitué da casa do Claudiomiro. Era sensivelmente da nossa idade e tinha uma barbicha de bode e usava uns óculos à paneleiro. Apresentou-se e logo começou a travar conhecimentos, parecia uma mulher de má fama e boa na cama a arranjar clientela. Passados mais uns minutos bateram novamente à porta, agora sim, era a GNR convenientemente trajada, que vinha mandar vir por causa do barulho, mas o Claudiomiro e o Zé Manel logo resolveram a questão com umas Super-Bocks e a coisa ficou por ali, o barulho pôde continuar.

Com o andar da noite o whisky foi escorregando pela goela abaixo e o Paizinho começou a entrar em acção. Abraçado ao nosso anfitrião começou a tentar dizer o nome do homem correctamente: “Oh Claudioméro, diz-me lá então como é que tu ficaste com esse nome. É que Calimério é um nome muito estúpido.” Ao que o homem pacientemente corrigia para “Claudiomiro”. A cena prolongou-se por algum tempo, sempre com o Paizinho a insistir no “Clauméro”, no “Caliméro”, no “Claudimério”… tudo menos “Claudiomiro”. Até que o Paizinho, farto de não obter resposta levantou um pouco mais a voz e perguntou: “Mas foda-se, mas quem é que foi o filho-da-puta que te pôs esse nome?” ao que o Claudiomiro respondeu com o sorriso paciente: “Os meus padrinhos”. O Paizinho só conseguiu dizer: “Filhos-da-puta! Que nome feio!” Pronto, foi a ruína. Mas o mais curioso é que o homem gostou da franqueza do Paizinho e convidou-nos a todos para o casamento da filha.

Já cá fora, depois de esgotar a garrafeira do homem, que devia ser elevado a santo, o pessoal dispersava na rua deserta. O Torradeira escondia-se na mala do carro e fazia cucu quando a abriam, o Guronzé andava a mostrar àqueles que ainda conseguiam articular um “Ah…” os interiores e as características especiais do seu bólide de competição e o Guro só dizia: “Que puta de bebedeira…”.
Entretanto o Paizinho andava de árvore em árvore, nas traseiras de um cemitério, perto do local da serenata, a ameaçar vomitar, mas sempre vigiado de perto por mim e pelo Canecão não fosse o moço tralhar. Quem não o largava era o Zé Manel, o GNR, que dava palpites daquilo que ele devia fazer e que não devia. Foi então que o Paizinho soltou o primeiro grito de desagrado da noite: “Óh GNR faz-me um bico!”. Foi a loucura. Entre risos e gargalhadas, andava o Torradeira preocupado a perguntar: “Alguém viu a minha camisola?!?!”. Sim, meus caros, o rapaz estava e tinha vindo trajado.

Estava na hora de regressar, e a saudade já começava a apertar, afinal as Caxinas são terra de gente boa e de coração enorme. O Guronzé recusava-se a levar o Paizinho, alegava que ele estava bêbado e que ia de certeza vomitar o bólide de competição todo. Compreensível. Por isso levei-o eu, que ando mais devagar e porque também vomito bastante. Já não trouxe para Espinho o Torradeira, que por troca foi com o Guronzé.

Encostamos o Paizinho a uma das portas, abrimos o vidro e lá veio ele até espinho com a cabeça semi-de-fora. O Caneção ria-se como um perdido dentro do carro e o Paizinho dormia com os cabelos ao vento. A viagem decorreu sem incidentes de maior. Chegados a casa do Paizinho deparamo-nos com um problema, o rapaz não acordava. Dei-lhe um par de chapadas mas ele continuou em sono profundo. Então o Canecão e eu pegamos no moço em peso, entramos em casa (com os país dele quase a acordar, eram já 6h da manhã) e deitamo-lo na cama, tiramos-lhe a roupita e aconchegamos-lhe os lençóis.

O dia seguinte foi terrível, como de costume. Ficamos a saber que o Paizinho tinha vomitado a cama toda durante o sono e ouviu das boas da mãezinha. Ficamos também a saber que o Torradeira não resistiu e estreou os tapetes, os bancos e os plásticos do bólide de competição do Guronzé com um requintado vomitado de whisky.

Ai as saudades destes tempos de insana loucura…

6 comentários:

Eduardo Gonçalo disse...

Caro Homem que mordeu o cão,

Queria congratulálo pela hilariante eloquência com que relata a história deste nosso GASde69.

Apenas tenho um pedido a fazer. Quando a inspiração lhe surgir, e tiver uma enorme vontade de relatar mais pérolas desta trupe de ébrios, faça preceder o relato pelo aviso "Ler em privado".

Passo a explicar. Desde a criação deste blog, eu, todas as manhãs o consulto ancioso por novas mensagens. No meu local de trabalho como é óbvio. Daí decorre que estava eu já perdido de riso e com lágrimas nos olhos, e entra um cliente e encontra-me nessa triste figura.

Mais mensagens, por favor, mas com aviso.

Abraço

Zientist disse...

Incrível!!!
Concordo com o Eduardo, é preciso o aviso de ler com cuidado...
Tudo bem que não tenho que atender clientes, mas não fica bem o rosnar de uma gargalhada enviada directamente pela garganta abaixo em plena biblioteca....

Homem que mordeu o cão continua com estas belas prosas que são geniais.

Abraços Gaseanos

Ad Eternvm Qveimatorvm disse...

OH PAH!!!!

EU TAMBÉM DEVIA ESTAR ALCOOLIZADO NESSE DIA, PORQUE FIQUEI COM A IDEIA QUE TINHA SIDO EU A LEVAR CARRO!!!
MAS ADIANTE.... O NOME DO BOM SENHOR NÃO SERIA CLIMÉRIO????
AH SAUDADES.... VOLTA PAIZINHO, NA TUA MELHOR FORMA, TENS AQUI MUITO BOA GENTE PARA TE LEVAR A CASA!!!
GRANDE GAS!!!!!
(MAS TENHO QUE O GUARDAR, ESTOU NUMA BIBLIOTECA PÚBLICA)

Tiago Guimarães disse...

Mas o verdadeiro terror do pessoal era que ele se lembrasse que o Cálimero tinha andado com a Abelha Maia.

Estranhamente não lhe ocorreu essa...

De facto o senhor Climério devia ser feito santo!

Barão Vermelho disse...

Entretanto andei a noite inteira a pedir desculpa é moçoila que tem de nome, Rosa!
Ela dizia que era muito normal o pai aturar os bêbados do tasco ao lado e estava de certa forma habituado...
Também ri a perder com este relato soberbo!!!

Seria de todo uma história fantástica se de facto tivessem ido ao casamento. Todos os convidados à vossa espera e eu lá com cara de poucos "amigos". Foi também nesta altura que entrei em rotura com o GASE69 durante uns tempos. Não pelo desfeita que me fizeram. Isso não! Somos "Gajus Grandes" e resolve-se com mais ou menos discussão ou copo. Mas pela desfeita que fizeram a uma grande amiga da faculdade, que tudo fez para nos receber bem! Tivemos uma das mesas mais fartas da nossa história!Todos nos receberam de braços e adegas abertas! E no casamento todos ficaram à espera...
Fiquei muito sentido na altura e ainda hoje penso nisso achando que não se deve repetir com mais ninguém...

GurónZé

Ad Eternvm Qveimatorvm disse...

Não és só tu que pensas nisso,mas é passado. Tenho a certeza de que somos mais crescidos... falando por mim, garanto a maturidade até à 6ª caneca seguida.