sábado, 24 de julho de 2010

Crónica de um Matrimónio

Bem, este texto vai ser para mim um desafio. Descrever jovialmente algo que me foi tão próximo pode tornar-se uma tarefa desmedidamente difícil. Mas vou tentar.

Faltava um minuto para as 14 horas quando finalmente consegui sair de casa, já trajado e com a guitarra pendurada no ombro. A tarde de Verão estava quente e o sol não desistia de me tentar derreter. Mas em vão, pois apesar de suar, e muito, cocó seco não derrete.
Entrei no meu carro impecavelmente badalhoco, e dirigi-me à capela da Nossa Senhora da Ajuda, que fica a uns longos trezentos metros (arredondados) de minha casa. Como é obvio acabei por estacionar o carro mais perto de casa do que da capela. Conforme ia galgando a calçada os transeuntes, que vestiam leves indumentárias, lançavam-me olhares trocistas ao passo que as transeuntes, que desfilavam provocantes indumentárias, me lançavam olhares lascivos.
Quando finalmente chego à capela, encontro o Guro e o Moikano na entrada muito indignados: O senhor-excelentíssimo-digníssimo-lustrissimo-presbítero queria um cântico de entrada e nós não tínhamos preparado nenhum!

Mas nada que apoquentasse o Cancioneiro, e como “Deus está aqui” arranjou-se logo um cântico de entrada. Subi então os degraus que davam acesso ao local onde a magnânime tuna iria actuar: a bancada central da Capela de Nossa Senhora da Ajuda. Lá em cima encontrei o Pedro Queiroz, que tentava desesperadamente arrancar algum som da relíquia exposta no piso superior da capela, e sem entretanto chegou o Jardel com a Chaimite, pronto a fazer vibrar na frequência “oceano-pacifico” qualquer coração mais carente, auxiliado pelo Canecão e por um Moço de ar muito afeminado, que ainda trazia os colants da noite anterior a revestir-lhe as pernas em forma de alicate. Verdade seja escrita, este Moço era um herege pior que o Canecão de antigamente, pois foi sem decoro que entrou na casa do Senhor de toalha negra ao ombro, com uns provocantes calções cor-de-corvo e um chapéu de três bicos. O que vale é que o senhor-excelentíssimo-digníssimo-lustrissimo-presbítero não o viu, senão convidava-o já para ir com ele fazer bodyboard naqueles dias em que a SICradical vem cá a Espinho fazer reportagens.

O Cuequinha-Preta e o Subwoofer não demoraram a chegar, assim como o Almeida-Santos e o Pide. Como o resto do pessoal nunca mais chegava o Guro, depois de elogiar a pontualidade do pessoal com uns impropérios que não me atrevo a transcrever, lá deu inicio ao ensaio geral. Cada música foi então revista minuciosamente-muito-por-alto-uma-única-e-última-vez, e ficamos então prontos para a actuação.

Quase com a cerimónia a iniciar-se chegou o Torradeira sorridente e o Gigantone todo speedado e pronto para enfiar uns quantos pregos em todos quantos se lhe atravessassem no caminho.
O noivo, lá em baixo, esperava pacientemente pela noiva, enquanto o pessoal cá em cima repetia sem cessar um galhofeiro “tosxsxtasxx”. (ainda hoje não entendo porquê). Chegou finalmente o Obelix e a cerimónia podia começar. A noiva assim que soube que a tuna estava completa e apressou-se para a Capela, na esperança de ainda os ouvir cantar.
Já com a tuna em formação de combate, a noiva entrou na Capela ao som de uma relíquia do século V, que rangia mais do que soava. E quando já todos pensavam que se podiam sentar, a tuna anunciou que “Deus está aqui”.

A actuação foi brilhante, não havia música que não suscitasse um virar de cabeças na nossa direcção, acompanhado por um sorriso malandro da parte de todas as donzelas presentes na cerimónia. O Santo mexeu, o Cordeiro de Deus dançou, o Aleluia espantou, o Senhor, Tu és a luz encandeou… até parecia que eram os escuteiros de Alvarelhos que cantavam! Mas o ponto alto foi sem dúvida a intervenção dos “Il Divo”, que não quiseram deixar de estar presentes. Houve quem tivesse pensado que se tinha tratado de um playback, mas não, foi mesmo “in vivo”.

Como não podia deixar de ser, o Viscoso e o Pide não se conseguiram conter tiveram de tocar o seu incontinente-faduncho-boémio, mesmo a meio do ofertório. Quem não gostou da brincadeira foi o senhor-excelentíssimo-digníssimo-lustrissimo-presbítero, que viu no acto de tocar a inocente melodia, naquele instante, um ataque à seriedade da sua Profissão… oh, perdão, Vocação, queria ter escrito Vocação. Olha, agora já não dá para apagar porque o meu teclado é pobrezinho e não tem “delete”.

O importante é que a cerimónia correu impecavelmente bem, ou não tivesse ela sido conduzida por um profissional da coisa… o Guru! (pensavam que ele estava a referir-me a quem? Ao clérigo, não? Seus malandros…)

No final, a noiva sempre atenciosa mandou pelo jabardo do irmão algo para adoçar a boca a quem tão bem cantou e alegrou: Beirão!!! Quer dizer, amostras de Beirão…

Depois de terem os papéis todos assinados, os noivos saíram finalmente da Capela, com arroz pelo ar e capas pelo chão. Foi então que surgiu um espontâneo digníssimo brinde de beirão e um FRA dito-berrado pelo Almeida-Santos, que perdurara pelos tempos.

No final do dia, depois da loucura da festa, a noiva disse-me comovida: “A parte do casamento que eu mais gostei foi a cerimónia. Foi linda. Obrigado.”

Obrigado.








PS: o título “lustrissimo” nada tem haver com o facto de o nosso senhor-excelentíssimo-digníssimo-lustrissimo-presbítero gostar de puxar o lusto do senhor bispo do Porto, mas sim com o facto de já ser o eclesiástico da cidade de Espinho à mais de 5 anos (5anos = 1 lustro).

PPS: Agora a sério: Muito obrigado a todos pela actuação e da forma como correu. A Iracema e o Tiago estão-vos verdadeiramente gratos e não encontram palavras para descrever o quanto todos vós ajudaram a tornar-lhes o dia inesquecível. Muito obrigado por terem estado presentes meus amigos.

2 comentários:

Tiago Guimarães disse...

De nada, jovem-viscoso-que-atrai-olhares-lascivos!

Se os teus pais casarem um outro filho que tenham, é só dizeres que a gente vai lá outra vez!

E dessa vez num há beijinhos prá noiva! São todos pró noivo!

Ze Rodrigo disse...

muito bom :)