Crónicas de um “Almoço dos Varelas”
Meus caros, é minha intenção, com esta crónica mal amanhada, lançar-vos um desafio. Que depois de todas as actuações algum de nós escreva um ensaio de crónica sobre a dita. O cronista (ou cornista) pode ficar indigitado no fim da mesma, passando assim a ser trabalho dividido e não trabalho acumulado.
Cada um poderá optar pelo modo de comunicação que melhor lhe convier, uma foto comentada, um vídeo adulterado, um texto acutilante ou um desenho da primária. Cada um sabe de si.
Vamos lá à crónica que se faz tarde.
Passava um minuto das três da tarde quando dois jovens trajados, um viçoso e o outro gay, se aproximaram do café América, esse ícone da cafetaria Espinhense. Mal entraram os presentes automaticamente identificaram o jovem gay e o jovem viçoso, pois um trazia vestidos uns calções vincados, uns colans pretos lascivos, um colete afeminado e um chapéu de três bicos e o outro era a minha pessoa.
Os comentários e os olhares indiscretos não se fizeram esperar. Ouve até quem dissesse entre dentes: “Ve-se logo que vão prá rambóia. A juventude está perdida… é só panões.”
Os jovens sentaram-se lado a lado, indiferentes ao preconceito, e logo pediram um café e um carioca de limão (é por isso que ainda hoje me mantenho viçoso). Com o passar dos minutos mais jovens viçosos foram chegando. Primeiro o “cuequinha preta”, que trazia ainda no olhar o reflexo da maluqueira da noite passada, seguido do “canecão”, que para fazer jus ao nome também pediu um carioca de limão. O “subwoofer” chegou passado um pouco, ainda com os olhos fechados pela remela que o cegava e o fazia ainda viver na loucura do Sábado à noite. Quando o empregado, sempre atento, lhe perguntou se tomava alguma coisa ele respondeu com uma voz cavernosa: “Guronsan… sem gelo.” Não passou muito tempo até que o “cancioneiro”, acompanhado da sua donzela, chegasse. Vinha muito bem disposto, com um sorriso de orelha a orelha e com um cabelo completamente despenteado. Tirem vocês as conclusões sobre a noite de Sábado deste Don Juan. Finalmente chegou o “selecto” que já estava escondido dentro do carro à quase uma hora. Estava à espera que todos chegassem e estivessem bem cómodos, para que a sua entrada fosse realmente triunfal. E de facto foi.
Ainda ficamos um pouco mais à espera que outro alguém chegasse, mas tal não veio a acontecer. Estávamos todos. Podíamos seguir rumo ao “Almoço dos Varelas” !!!
Éramos 7, por isso fomos em 7 carros. Tínhamos que causar impacto, temos uma reputação a manter.
A viagem decorreu em marcha lenta (era Domingo à tarde). Chegados à “Casa da Aguda” o “boquinha linda” após saber que éramos 7 e após muito insistência nossa, lá veio cá fora abrir-nos a porta. Foi aí que ele, já tocado pelo tinto do almoço, resolveu presentear-nos com uma sessão de strip-tease enquanto uns afinavam os instrumentos e os outros levantavam os instrumentos (lembrem-se que entre nós havia um moço com um ar muito gay). Após estarmos todos trajados lá entramos na casa de convívio.
Havia mais almoços a decorrer no mesmo espaço, e devo confessar-vos que nesses tais almoços havia muita carne tenrinha e bem gostosa, coberta por delicadas mini-saias, mas ninguém pôde prova-la… pois estávamos ali com uma missão: actuar no “Almoço dos Varelas”.
Entramos na sala onde o almoço decorria, e logo foi perceptível a excitação dos presentes: “Olha, olha… temos música”. “Uma tuna?! Isto está incluído?! É que se não estiver não quero, mandem para trás. Prefiro os torresmos!”. “Estes?! Outra vez?! Vou lá fora fumar e venho pró ano!”
Não perdemos tempo, impedimos a saída e começamos logo a actuar, antes que os mais idosos também tivessem tempo para fugir e a sala ficasse irremediavelmente vazia. Começamos com o “Pito da Maria”, que correu muito bem, porque só tem dois acordes: Lá e Ré. E após dizer (e fazer tanta asneira) o nervoso miudinho inicial ia-se desvanecendo. De seguida passamos ao “só um beijo”, que correu de forma brilhante. Uma música de um grau de dificuldade mais elevado, mas que sai sempre bem. Acabamos, como já vem sendo hábito, com a “Feiticeira”. No final da música o “boquinha linda” aproximou-se carinhosamente da Rogéria, que estava nos braços da senhora sua mãe, e cantou-lhe num sussurro “…eu vivi pra te beijar…”. A pequena Rogéria ao ver o pai até se babou! A sala estava enternecida. E nós, comovidos, não conseguíamos deixar de pensar: “Ai ai… a menina até se babou, ainda bem… é que ela podia ter bolsado.”
No final todos estavam rendidos ao nosso encanto e à nossa qualidade musical, se o “guru” estivesse estado presente também tinha ficado muito contente… ai tinha tinha :p (levamos cá um raspanete da mãe Regina… ai mãe :p)
Ficamos depois a saber que após um breve intervalo iríamos ter de tocar mais duas ou três músicas (mas desta vez tínhamos mesmo que tocar e cantar). Durante o convívio com os comensais estes foram-se apercebendo de quem nós éramos: uns prestigiados marialvas que se juntam para os copos e sem qualquer vocação musical. Houve ainda tempo para contar os buracos de traça da minha capa e as crateras de traça da capa do “cuequinha preta”. Este grupo, à excepção do “selecto”, mais parece um grupo de rotos esfarrapados. Um tinha as calças tão rotas que teve de as cortar e fazer delas uns calções.
Era hora de recomeçar o festival. O “canecão” ciente da tarefa de gigante deu um passo à frente (ou fomos todos nós que demos um passo atrás?? já não me recordo…) e disse: “Eu canto o lá longe!”. Porreiro, como basicamente é só ele que canta toda a gente concordou. Surpresa das surpresas: Foi um sucesso! Não se enganou, não se engasgou e acima de tudo… Ouviu-se! Fantástico. O público estava em delírio. A garrafita de vinho verde do intervalo começava a fazer efeito. Quanto mais o público bebe, melhor nós cantamos. A sala exigia mais, exigia o “Pito da Maria” outra vez. Se da outra vez tinha corrido bem, desta vez correu melhor ainda! Não acertávamos com a entrada, cantamos as mesmas estrofes várias vezes, saltamos cada um para o seu lado e rimo-nos como uns tolos durante a música toda. Até tive pena da Joana, que tocou tão bem a pandeireta. No final tivemos ainda mais palmas, o público pensou que aquilo fazia tudo parte do espetáculo. Aproveitamos a boa onda e resolvemos cantar logo logo a ultima música, “Vareira”. Foi um “must”! Nem eu sabia que sabia tão bem aqueles acordes. Correu lindamente (not). Mal acabou a musica saímos logo a correr muito, esquivando-nos à monumental vaia que se iria seguir.
A caminho da saída cruzamo-nos com umas moças (que de certo não nos ouviram tocar) que logo exclamaram: “Uma tuna!!! Uma tuna!!! Queremos tirar uma foto com a tuna!!!” Como é óbvio não deixamos de aceder ao pedido e fizemos de cenário de fundo, enquanto as moças ensaiavam poses e sorrisos para objectiva. Foi uma sorte… foi uma sorte elas não nos terem pedido para cantar um bocadinho. Porque se assim tinha sido aquela foto em vez de estar neste momento no Facebook das moças estava na pasta da “reciclagem” delas.
Após as demoradas despedidas ao “boquinha linda”, que ainda nos tentou impingir mais um strip-tease, iniciamos a nossa viagem de regresso a Espinho, ainda a tempo de ver o Benfica a ser campeão (se eu soubesse tinha ficado para a vaia…)
Abraços gaseanos
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6 comentários:
Belíssima crónica!
Resume perfeitamente a bela tarde de Dormingo passado!
Senhor Engenheiro Alexandre Varela, voltarei ao almoço da sua ilustre família para cantar com todo gosto... mas pró ano convença-os a fazê-lo a um Sábado!
Isto de cantar no dia a seguir à finalíssima de Voleibol tem muito que se lhe diga!
Finalmente alguém começa a escrever a história do nosso "Magnum Hot" grupo de serenatas.
Ah só agora é que li tudo... e omeu heroicomomento de me OFERECER, sem estar ébrio para cantar a solo??? Exijo o reconhecimento público, caso contrário começo logo a beber cervejas, mal chegue ao América. Ai o catanoooo
Chefe... Já tá alterado e devidamente documentado :p
LINDO!
LINDO!
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